30/12/2016

[Creepypastas] Arrependimento


O professor havia dito que passaria um trabalho importante naquela noite, mas isso já não importava mais. Jonathan só queria que tudo explodisse e fosse pelos ares. Mas ele sabia que, mesmo se tudo explodisse, aquela lembrança ainda tomaria conta de sua mente.
Ele e Angélica já estavam namorando há três anos. Tudo ia bem até três meses atrás, quando a garota passou a agir estranhamente. Ele sabia que algo estava errado, mesmo que ela lhe dissesse que aquilo era apenas neura da cabeça dele. Naquela manhã de quarta-feira, ele decidiu ir almoçar em casa durante seu horário de almoço, em vez de comer no refeitório da empresa, como sempre fazia. Quando chegou lá, viu algo que nunca sequer cogitou que aconteceria. Ali, na cama deles, estava Angélica. Infelizmente, ela não estava sozinha.

- Angélica, que porra é essa? - exclamou ele. Sua namorada, que estava de bruços na cama, com outro cara por cima de seu corpo esguio. Cada um se jogou para um lado da cama e tentou se cobrir como pôde.
- Jonathan, eu posso explicar! - responde ela, mesmo sabendo que não conseguiria se explicar.
- Consegue? Então explique, sua vagabunda - virou-se para o homem. - Quem é você, seu filho da puta? Saia agora da minha casa, antes que eu arrebente a sua cara. Aproveite e leve essa quenga com você.
- Olha, você me respeite, Jonathan!
- Te respeitar? Faz-me rir, garota. Aqui estou eu, trabalhando, me dedicando e me esforçando para que possamos ter uma boa vida, enquanto você fica em casa e levanta a bandeira num mastro que não é o meu. Cara, você ainda está aqui? Quer levar um tiro? Perder o pescoço?
O rapaz abaixou-se ao lado da cama para pegar suas roupas, o membro ainda ereto e com camisinha, mas foi interrompido.
- O que pensa que está fazendo? - disse Jonathan. - Pode levantar. Não está pelado? Vai sair da minha casa exatamente assim. Aliás, que tal entrar num daqueles sites que vendem produtos para aumento de pinto? Você está precisando.
O homem passou correndo por ele, e acabou levando um soco no nariz. Perdeu equilíbrio e foi ao chão. Uma pequena poça de sangue começou a formar-se abaixo de sua cabeça. Ele levantou-se e saiu correndo.
- É, foi um belo soco - murmurou Jonathan, massageando os dedos de sua mão esquerda. - Onde estávamos? Ah, verdade. Você estava prestes a me explicar por que estava fodendo com outro cara na nossa cama - ela tenta dizer algo, mas prefere ficar em silêncio. Lágrimas escorrem por seu rosto enquanto ela tenta esconder os delicados seios. - É, como eu presumi. Bom, é o seguinte. Você tem quinze minutos para arrumar suas coisas e dar o fora da minha casa. É, minha casa. E não, não estou nem aí para onde você vai. Só quero que você saia da minha frente, antes que eu me arrependa e decida fazer algo pior. Vamos, o que está esperando? O tempo está passando!
- Jonathan, você não pode fazer isso comigo! Eu te amo!
- Você me ama e o Terry Crews é o Papai Noel. Saia da minha frente, garota! Quer que eu te expulse daqui pelada, como fiz com aquele cachorro que estava te comendo?
Usando o lençol branco, Angélica enxuga as lágrimas que caíam por seu rosto. Dando-se por vencida, ela levanta-se e vai até o guarda-roupa, onde começa a colocar suas roupas delicadamente sobre a cama. Jonathan recusa-se a ajudá-la. Com muito esforço, ela consegue pegar a mala que estava na parte de cima do guarda-roupa, e coloca ali parte da roupa que havia pegado. Ela tinha apenas uma mala, e a quantidade de roupas podia facilmente encher outras três malas.
- Vou para a casa de Aline - diz ela, tentando não chorar mais. - Pode me dar uma carona?
- Olha, não sei se você já ouviu falar, mas tem uma coisinha chamada táxi. Pode usar seu celular e pedir um.
Ela assente, pega sua mala e sai do quarto. Jonathan senta-se no canto do quarto e desaba em lágrimas.
- Jonathan! - alguém gritou. Era seu professor. - Te fiz uma pergunta.
- Desculpe, professor - respondeu ele. - Não estava prestando atenção.
- Garoto, você está um caco. Saia da aula. Depois você me entrega o trabalho.
Sem pestanejar, ele pega seu material e sai da sala, sentando-se na escada que está a alguns metros dali. Seu celular vibra, e ele o pega. Ele havia recebido uma mensagem de texto.
Jonathan, sou eu, Angélica. Por favor, me ajude. Tem alguém querendo me matar.
Ele dá risada, imaginando que sua ex-namorada havia chegado ao ponto mais baixo que poderia chegar. Simular uma perseguição apenas para ter sua atenção novamente.
O celular vibra em sua mão.
Jonathan, por favor. Eu estou na casa de Aline. Alguém tentou assaltar a casa dela. Ela tentou se defender e acabou com uma bala no meio da testa. Eu estou morrendo de medo. Por favor. Me ajude.
Após um minuto, outra mensagem.
Jonathan, o que quer que eu faça? Implore por perdão? Não mereço seu perdão, e sei disso, mas estou implorando que me ajude. Se não fazer nada, vou acabar morrendo. Quer conviver com essa memória pelo resto de sua vida? Por favor, faça alguma coisa. Eu preciso de você.
Ele desliga o celular. Se recebesse outra mensagem, jogaria o aparelho contra a parede. Levantou-se, foi até a cantina da faculdade e comeu dois lanches naturais. Pagou a conta e foi para seu carro. Tudo o que mais queria era ir para casa e dormir, mesmo sabendo que nunca mais conseguiria dormir na mesma cama onde a garota que ele amava havia transado com outro.
No meio do caminho, ligou seu celular novamente. Discou o número de Angélica. Chamou, chamou e chamou, mas ninguém atendeu. Isso ocorreu nas cinco vezes em que ele tentou. Manobrou o carro e dirigiu até a casa de Aline, apenas para ver se estava tudo bem.
Quando aproximou-se do local, pensou ter ouvido um barulho conhecido. Torceu para não ser o que ele pensava que era mas, infelizmente, ele estava certo. Havia uma ambulância e viaturas policiais no local.
- O que está acontecendo aqui? - perguntou ele, aproximando-se de um dos oficiais.
- Se afaste, garoto - respondeu o oficial. - Você não pode ficar aqui.
- A amiga de minha ex-namorada mora aqui, e ela também estava aqui.
- Alguém tentou invadir a casa e matou as duas garotas, além de ter levado bastante coisa.
Jonathan sentou-se no asfalto e começou a chorar. Aline estava morta. Angélica estava morta. Ele poderia ter feito algo para ter evitado aquilo, mas não fez. Não importava o que ele fizesse, nada as traria de volta.

Três semanas depois

Três semanas haviam se passado após os incidentes que mudaram a vida de Jonathan. Entretanto, o pior ainda estava acontecendo. Ele ainda estava sob investigação policial. Contou à polícia que ele e Angélica haviam rompido naquela manhã, e a polícia o colocou como suspeito número um dos assassinatos, mesmo com ele mostrando as mensagens de texto que havia recebido na noite em que a tragédia aconteceu.
Naquela noite, ele estava navegando na internet, quando viu seus amigos falaram de um vídeo gore que havia viralizado na internet. Ele procurou pelo vídeo e, quando o encontrou, preferiu nunca ter feito aquilo.
No vídeo, havia um homem mascarado e uma mulher presa à cadeira. Ela parecia estar amarrada com cordas, e ele teve certeza disso instantes depois.
- Boa noite - disse o homem mascarado, enquanto achava o melhor ângulo para sua câmera. - Hoje teremos um espetáculo ao vivo!
Apontou para a garota amarrada. Jonathan a reconheceria em qualquer lugar. Era Angélica.
- Não se preocupe, bonitinha - disse ele, acariciando o rosto de Angélica com a lâmina de uma faca. Só vai doer no começo. E depois, um pouco mais.
E então começou. A cada dez segundos, o homem mascarado abria um corte numa parte aleatória do corpo da garota. Ela tentava gritar, mas a mordaça em sua boca a impedia. Sangue começou a escorrer por seus braços, e suas roupas ficaram encharcadas. A cada corte, ela se esforçava ainda mais para gritar. Jonathan queria fazer algo, mas já era tarde demais. Sua garganta foi cortada, e ela nunca mais gritaria.
Jonathan abaixou a tela de seu laptop. Ele ainda estava em choque devido ao que havia acabado de assistir. Aquela era a prova definitiva de que ele não havia sido o culpado do assassinato de Aline e Angélica, mas nem tudo eram flores. Aquela era a prova definitiva de que ele podia tê-las salvo e, como Angélica lhe disse, ele teria de conviver para sempre com o arrependimento de não ter feito nada para mudar aquilo.


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