03/01/2016

[Creepypastas] O Último Passageiro


Esse era meu primeiro ano no ensino médio, mas eu já não suportava mais ter que acordar às 5h30 da manhã, dia após dia. Eu fazia isso desde a primeira vez que pisei meus pés numa escola, quando eu tinha cinco anos. Apenas o primeiro mês de aula havia se passado, mas eu já não conseguia mais acompanhar o ritmo acelerado da nova escola, pois o ensino era mais puxado do que em minha antiga escola. O resultado disso? As provas vieram, e eu fui mal pra caramba. Minha mãe quis culpar meu emprego, mas eu disse que a culpa era apenas minha, por não conseguir acompanhar o ritmo de ensino. Mas talvez ela estivesse certa, e fosse realmente culpa de meu emprego. Eu trabalhava durante o período da tarde no mercadinho que havia no bairro. Quando chegava em casa, estudava um pouco e logo adormecia.
Um dia após pegar os resultados horríveis das primeiras provas, decidi tomar uma providência. Conversei com meu chefe, e ele concordou que eu trabalhasse de manhã e parte do período da tarde. Dessa forma, eu poderia descansar um pouco antes de ir para a escola, e meu bom rendimento voltaria. Minha mãe, estranhamente, concordou com isso, e, na semana seguinte, matriculei-me no período da noite.
Eu morava do outro lado da cidade, e precisava ir à escola de ônibus. Era por isso que eu acordava tão cedo. Como se não bastasse o horário, vários jovens conversavam e gargalhavam, numa animação que eu não conseguia entender. Felizmente, isso mudava durante o período noturno. Eu voltava durante a última "volta" do ônibus. Por ser a última, essa volta continha apenas alguns estudantes, alguns mais velhos do que eu, provavelmente universitários, e todos eles estavam cansados o bastante para apenas sentar-se e ansiar pelo momento em que chegariam em suas casas.
Peguei o costume de sentar-me no último banco, ao lado de um homem idoso. Durante os primeiros dias, nós apenas nos cumprimentávamos e seguíamos em silêncio, mas logo criamos uma afinidade. Começamos a conversar, e notei que ele era um homem muito inteligente, além de ter servido ao exército. Acho que isso explicava seu corpo robusto, mesmo aos 65 anos de idade. Noite após noite, eu não via a hora de sair da escola e subir naquele ônibus, apenas para conversar com aquele senhor, mesmo que todos os passageiros ficassem nos encarando, enquanto conversávamos.
Dias se passaram, até que eu notasse algumas coisas. Primeiro, ele não havia me dito seu nome, e eu também esqueci de perguntar; segundo, por mais que ele me contasse tanto de sua vida, até mesmo que sua esposa havia morrido há alguns meses, e ele não tinha filhos, eu sabia muito pouco sobre ele. Ele era um mistério para mim. Sempre quando eu entrava no ônibus, ele já estava lá e, quando eu estava prestes a descer, ele ainda estava lá. Talvez não fosse da minha conta, mas onde ele morava, e por quê atravessava a cidade tão tarde, todas as noites?
Numa noite dessas, saí cinco minutos mais tarde, pois estava fazendo trabalho. Pode não parecer muita coisa, mas foi o bastante para que uma garota se sentasse em meu lugar de costume. Pior que isso, ela estava conversando com aquele senhor. Mas será que estava mesmo? Pois parecia que ela estava conversando sozinha, como se não houvesse ninguém ali. Ignorei isso, e sentei-me num banco qualquer. Quando deixei o ônibus, nem a garota e nem o homem estavam lá. Cheguei em casa, jantei e deitei-me na cama, mas o sono demorou a vir. Talvez fosse ansiedade, ou curiosidade, pois eu não conseguia parar de pensar no que estava acontecendo.
Na noite seguinte, procurei a garota, pois estudávamos na mesma escola. Perguntei sobre a noite anterior, e ela afirmou que havia conversado com aquele homem. Pensei numa maneira fácil de dizer aquilo, mas não consegui. Então logo lhe disse que tive a impressão de que ela estava falando sozinha. Ela levou a mão à boca, assustada, e tudo fez sentido para mim. Eu podia estar ficando louco, ou algo estranho e sobrenatural estava acontecendo em minha vida.
A aula acabou. Beatriz, a garota, e eu entramos no ônibus, e lá estava ele, sentado no último banco. Sentamo-nos ao seu lado, e resolvemos puxar assunto.
Em determinada curva, notei que o ônibus estava bem mais devagar que o de costume, como se o motorista estivesse prestes a estacionar. As janelas estavam fechadas, mas um vento gelado percorreu meu corpo e me arrepiou por completo. Perguntei ao homem se ele sabia o por quê daquilo. Infelizmente, a resposta ficaria presa em minha mente pelo resto de minha vida, que poderia ser dali a 70 anos ou 7 segundos.
- Eu fui o motorista desse ônibus por oito anos - ele começou. - Foi logo quando deixei o exército. Há 10 anos, numa noite chuvosa, nessa mesma curva, o ônibus foi atingido por um caminhão, que acabou perdendo o controle. Parte das pessoas que estavam ali morreram naquela noite, incluindo eu.


12 comentários:

Siga-nos no Instagram @dicasdojess